Semana de 4 dias: veja quem já aderiu à prática

Por

Larissa Reis

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Publicado em

28/8/23

Mais equilíbrio entre a vida profissional e pessoal. Essa ideia já era um desejo das gerações mais novas e ganhou força, de forma mais abrangente, durante a pandemia. Com ela, a proposta de uma semana de 4 dias de trabalho.

Você acha que essa mudança beira a utopia? Bom, já tem gente tentando aqui no Brasil e vendo resultados. A Efí, a NovaHaus, a Shoot e a Zee.Dog estão entre as  empresas que reduziram a semana de trabalho e (até o momento) não pretendem voltar atrás.

Com base nos relatos de pessoas dessas e de outras organizações, contamos um pouco mais sobre a semana com 4 dias úteis, incluindo não só os pontos positivos, mas os desafios desta empreitada também.

Se interessou em saber mais? Neste artigo, você vai ver:

Como surgiu essa ideia?

A ideia não é totalmente nova, mas foi mesmo o contexto da pandemia, do isolamento social e do home office que lançou uma luz mais forte sobre a possibilidade da semana de 4 dias.

Todo esse contexto gerou reflexões sobre o estilo e o ritmo acelerado de vida das sociedades, de um modo geral, aguçando o desejo por um equilíbrio maior entre vida pessoal e profissional.

Mundo afora, organizações não-governamentais e iniciativas criadas para (re)pensar o bem-estar no trabalho apontam a redução das jornadas como uma medida plausível e benéfica, sem comprometimento da produtividade.

Um exemplo é a reconnect: happiness at work!, empresa brasileira que propõe que o movimento seja testado em nosso país. A diretora e especialista em felicidade corporativa, Renata Rivetti, deu entrevista à CNN para falar sobre a iniciativa, com realização em setembro de 2023.

Considerando a tendência brasileira de glamourizar o excesso de trabalho, ela se surpreendeu quando mais de 300 empresas manifestaram interesse em participar do movimento quando o teste da semana de 4 dias foi divulgado.

Quais outros países aplicaram?

Antes do Brasil, empresas de outros países aplicaram a semana de 4 dias de trabalho, como é o caso de:

  • Islândia;
  • Dinamarca;
  • Espanha;
  • França;
  • Emirados Árabes (pioneiros, inclusive para quem atua no serviço público);
  • Bélgica;
  • Suécia;
  • Reino Unido.

Outros também tentam ou já implementaram reduções na jornada, como a África do Sul, Nova Zelândia, Portugal, Estados Unidos, Irlanda e Canadá.

Em algumas dessas localidades, a redução da jornada de trabalho ocorreu a partir do movimento da 4 day week e de seu projeto piloto, desenvolvido justamente para que as empresas façam o teste.

No Reino Unido, o projeto durou seis meses, 61 empresas e 2,9 mil profissionais. Ao final do teste, 92% das organizações decidiu manter a semana mais curta, inclusive com o argumento de um ligeiro aumento no faturamento.

O que diz a lei brasileira?

A legislação trabalhista brasileira permite a redução da jornada de trabalho sem redução da remuneração. Ou seja, não há impeditivos legais para a implementação da semana com 4 dias úteis.

Entretanto, caso a alteração afete algum ponto firmado pela Convenção Coletiva de Trabalho, é preciso fazer novas negociações junto ao sindicato para que a adoção da semana reduzida não gere problemas jurídicos.

Exemplos práticos da semana de 4 dias

Na Efí, empresa de finanças digitais de Ouro Preto (MG), o início da otimização do tempo se deu com a redução do volume de reuniões, dando mais tempo produtivo às pessoas contratadas.

Atualmente, a carga horária é de "32 horas semanais, 8 horas por dia, sem redução de salário ou quaisquer outros benefícios", segundo o presidente e fundador da empresa, Evanil Paula.

Para que as entregas ocorram normalmente, porém, Evanil destaca que não é possível que todas as pessoas folguem no mesmo dia. Assim, algumas fazem plantão enquanto outras trabalham em escalas, folgando às sextas ou às segundas.

Um dos trabalhadores da Efí diz que se sente mais motivado e que se tornou mais produtivo de segunda a quinta desde que a empresa adotou a semana de 4 dias.

Não é pra todo mundo…

Na NovaHaus, foi o presidente, Leandro Pires, quem sugeriu a implementação da jornada reduzida e, depois de um período de ajustes, muitas pessoas se adaptaram bem. Mas ele, não.

As características da rotina se tornaram um impasse para a semana de 4 dias, mas Leandro não mudou de ideia em relação ao assunto. A nova dinâmica segue em voga na organização, enquanto ele ainda busca reduzir sua própria carga horária semanal também.

Vantagens da semana de 4 dias

É certo que, se está ganhando espaço, ainda que bem aos poucos, a semana com 4 dias úteis tem suas vantagens. Vamos a elas!

Melhor equilíbrio na vida profissional/pessoal

Com base nos resultados do piloto realizado no Reino Unido, a semana de 4 dias leva a uma vida mais equilibrada. Ao menos, é o que afirmam 54% das pessoas que participaram do teste por lá.

Entre os benefícios atrelados está o de que pessoas que têm tempo para se dedicar à rotina fora do trabalho ― afazeres, família, lazer, descanso e mais ―, não ocupam tanto sua mente com questões relacionadas durante a jornada na empresa.

Redução do estresse e do burnout

Além disso, 39% das pessoas se sentiram menos estressadas, enquanto 71% reduziram o burnout que, como você deve saber, é um problema cada vez mais comum a impactar profissionais e organizações.

Aumento da satisfação no trabalho

Ainda, um comparativo de 2017 a 2021, apresentado pela 4 Day Week indica que 78% das pessoas se sentiram mais felizes em relação ao seu trabalho.

Um nível elevado de satisfação é o desejo de quem trabalha e de quem emprega. Isso porque a rotina fica mais leve, a produtividade tende a aumentar e a qualidade das entregas também.

Sem falar que pessoas felizes com seus empregos têm uma tendência menor a buscar outras oportunidades. Aliás, segundo a reconnect, 15% das pessoas que participaram do teste do Reino Unido não voltariam à semana de 5 dias por um salário maior!

Melhora na retenção de talentos (e redução do turnover)

E, de fato, o piloto no Reino Unido apontou uma queda de 57% no turnover. Por sua vez, o comparativo da 4 day week ― que reúne um volume maior de dados ― indica que 63% das empresas melhorou sua capacidade de atrair e reter talentos.

O índice sugere que, de fato, uma semana com jornada reduzida é algo que interessa aos profissionais e que pode mesmo fazer sentido testar o modelo ao invés de simplesmente descartá-lo.

Aumento da produtividade e comprometimento

Para que a semana de 4 dias dê certo, as pessoas precisam ser mais produtivas, o que envolve níveis mais elevados de comprometimento, boa gestão do tempo e capacidade de autogestão.

Foi isso que Andrew Barnes, fundador da 4 day week, observou lá em 2018 quando propôs que as pessoas de sua empresa teriam um dia livre se aumentassem a produtividade diária. Deu certo.

Inclusive, foi esse teste, acompanhado pela universidade de Auckland, que atraiu a atenção de pessoas de diferentes partes do mundo para a ideia, sobretudo no contexto pandêmico e pós-pandêmico.

O "X" da questão é que: nem todas as empresas conseguem inspirar ou fornecer condições para o aumento da produtividade. Assim como nem todas as pessoas conseguem corresponder a essa expectativa.

É o que nos leva a falar das desvantagens dessa ideia.

Desvantagens da semana com 4 dias úteis

Renata Rivetti, da reconnect, acredita que o principal desafio da semana de 4 dias é convencer as pessoas de que a produtividade não é proporcional ao total de horas trabalhadas.

E, embora cases de sucesso no Brasil e no mundo mostrem que a produtividade pode, sim, aumentar, nem tudo são flores.

Primeiro porque a implementação do modelo não é simples. Um período teste é crucial para que escalas de trabalho sejam testadas e para que a mudança seja vivida por tempo suficiente para que seja avaliada.

Quanto a isso, cabe lembrar que o piloto no Reino Unido durou seis meses; período entendido como suficiente para que pessoas e organizações formassem uma opinião mais embasada.

Por lá, funcionou bem. Mas não há garantias e pode ser que empresas tentantes tenham resultados negativos no processo, sendo que é importante considerar essa possibilidade e se preparar para ela.

Segundo porque, como no exemplo do presidente da NovaHaus, nem todo mundo se adapta. Há quem sinta "culpa" por estar livre enquanto a maioria das outras pessoas da sociedade ainda está trabalhando e não saiba o que fazer com o tempo livre.

Também há quem, por demanda do próprio trabalho ou por ritmo pessoal, não consiga aumentar sua produtividade o suficiente para poder folgar um dia, de forma consistente.

Ainda, a adoção de uma semana com 4 dias úteis demanda uma mudança na cultura organizacional para que, com o tempo, se torne algo natural e que funcione bem para todos; inclusive para quem chegar depois da mudança.

Por fim, cabe mencionar que quem exerce atividades essenciais ou de atendimento ao público pode não conhecer a realidade de uma semana de 4 dias. Não, a menos que a organização tenha verba disponível para fazer novas contratações.

5 dicas para testar a semana de 4 dias de trabalho 

Uma forma de testar a semana com 4 dias úteis é buscar a orientação de empresas como a reconnect: happiness at work! ou 4 day week global. Além disso, temos outras dicas práticas que podem ajudar, veja:

  1. Tenha um bom planejamento

A ideia é trabalhar o mesmo tanto, mas em menos tempo. Isso demanda bom planejamento para:

  • definição de prioridades;
  • distribuição de tarefas;
  • gestão do tempo;
  • definição de metas;
  • criação de escalas de trabalho.

Em suma, não dá pra mudar da noite pro dia e um bom planejamento é o que vai permitir que o teste seja feito com o mínimo de intercorrências, permitindo uma avaliação mais justa da semana de 4 dias.

O planejamento também deve considerar um período adequado para o teste, tendo em mente que a adaptação pode levar um tempo.

  1. Inclua as pessoas

A redução da jornada de trabalho vai impactar (positivamente, espera-se) todas as pessoas da organização. Por isso, é importante colocá-las como parte da mudança.

Ao longo do processo, o teste pode demandar ajustes que serão baseados em questões levantadas por quem trabalha na empresa.

Considere que este é um experimento coletivo e permitir que as pessoas se engajem tende a fazer com que se dediquem mais a serem mais produtivas na semana de 4 dias.

  1. Busque por resultados

Vislumbrando a mudança na cultura que a redução da jornada vai demandar, comece a focar em resultados desde o período de teste.

É como a diretora Renata, do reconnect aponta: é preciso desmistificar a ideia de que a produtividade depende do tempo dedicado ao trabalho. Para que isso dê certo, o planejamento que mencionamos antes é fundamental.

Aliás, cabe um adendo: é válido fazer um planejamento semanal de entregas para que as pessoas tenham mais facilidade em conhecer suas demandas e prazos, e cumpri-los.

  1. Otimize processos

Pessoas não são máquinas. Um dia extra livre na semana pode motivar, mas nem sempre é suficiente para ativar a superprodutividade. Assim, adotar tecnologias para automatizar processos ou simplesmente redesenhá-los pode ser necessário.

A ideia é tornar os fluxos de trabalho mais eficientes, eliminando gargalos que prejudiquem a produtividade das pessoas e "joguem contra" a semana com 4 dias úteis.

  1. Reduza burocracias

Por fim, fica a dica de reduzir burocracias. A tecnologia ajuda com isso e o bom senso também. Como vimos, na Efí, uma das medidas iniciais foi reduzir o excesso de reuniões para que as pessoas tivessem mais tempo para se concentrar em suas atividades.

Do teste à realidade…

A semana de 4 dias é uma ideia relativamente nova e que, na prática, existe há ainda menos tempo ― e em uma dimensão também muito pequena.

Lá nos Emirados Árabes, até o governo aderiu à mudança, mas a tendência é que países mundo afora, inclusive o Brasil, testem e integrem o movimento pouco a pouco. Algumas empresas já começaram e os cases apontam para um futuro promissor.

Esse futuro, porém, pode demandar testes, falhas, desistências e novas tentativas. Isso, claro, além de planejamento. Para saber mais, confira nosso e-book gratuito sobre o assunto!

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