Outubro Rosa e pessoas trans e travestis: cuidados e prevenção

Por

Andresa Araújo

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Publicado em

21/10/21

Todo ano, há mais de uma década, a sociedade se mobiliza para falar do câncer de mama. É a campanha do Outubro Rosa. 

Mas, é importante ressaltar que, por mais que as campanhas foquem na saúde de mulheres cisgênero, a doença também pode acometer pessoas trans e travestis e é preciso refletir sobre isso para mudarmos o cenário. Vamos lá?

Neste conteúdo você vai encontrar:

O que é Outubro Rosa e qual a importância da campanha?

O outubro de 1985 foi o primeiro Outubro Rosa da história. O nome da campanha se dá devido ao Mês Nacional de Conscientização do Câncer de Mama e a proposta era divulgar a importância da mamografia no combate contra a doença.

Em 1990, a iniciativa se transformou no evento “Corrida pela Cura”, que arrecadou fundos para uma instituição americana voltada para o câncer de mama. Logo depois, os EUA instituiu o mês de conscientização e, posteriormente, a data passou a ser marcada pelos outros países. 

No Brasil, o primeiro Outubro Rosa aconteceu em 2002. Depois, a partir de 2010, o Instituto Nacional do Câncer (INCA) começou a apoiar o movimento, promovendo debates e apresentações para disseminar informações que ajudam na prevenção do câncer de mama.

Segundo levantamento desse órgão auxiliar do Ministério da Saúde, em 2019, o CA de mama ocupou o 1º lugar na mortalidade por câncer entre as mulheres. A cada 100 mil pacientes com essa doença, 14,23 vão a óbito.

Pessoas trans e travestis podem desenvolver câncer de mama?

A verdade é que todas as pessoas podem desenvolver o câncer de mama, afinal,  somos todos animais mamíferos. Se há mamas, há algum risco de câncer. No entanto, alguns grupos têm maior probabilidade de desenvolver a doença/

Um estudo realizado em Amsterdam, de 2019, identificou 15 casos de câncer de mama em 2260 mulheres trans, ambas com uma média de 18 anos de tratamento hormonal. Na população de homens trans, com uma amostra de 1229 participantes, foram detectados 4 casos.

Ou seja, a doença atinge sim pessoas trans e travestis, mas, felizmente, o risco é considerado baixo. 

Logo, muitas medidas de triagem aplicadas às mulheres cisgênero são, no geral, suficientes para a prevenção do CA de mama na população trans. 

É importante que os homens e as mulheres trans — pessoas que não se identificam com o gênero imposto no seu nascimento — recebam um olhar especial, sobretudo devido ao estigma, à transfobia e à exclusão social que dificultam as ações de prevenção. 

Fora o fato de que a falta de pessoas profissionais de saúde com qualificação e a desinformação também contribuem negativamente para esse problema.

Mas como essa condição também atinge a comunidade LGBTQIA+?

João Bosco, mastologia da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), explica que o uso do hormônio estrogênio pelas mulheres trans ajuda a desenvolver as mamas e, com isso, pode surgir o risco de câncer. Há outras questões envolvidas também, vamos explicar logo mais.

Mastectomia zera o risco de desenvolver câncer de mama?

No caso dos homens trans, mesmo para quem faz a retirada das mamas, também existe o risco de desenvolver o câncer — embora ele seja reduzido.

Isso porque, em muitos casos, o câncer está ligado ao DNA. Além disso, mesmo após a mastectomia, normalmente ainda permanece tecido mamário nas regiões das axilas, o que pode originar o tumor. 

Inclusive, a mamografia pode não ser o exame adequado nesses casos, já que, em pessoas mastectomizadas, há pouco tecido mamário. Nestes casos pode ser necessário a realização de uma ultrassonografia. 

Por outro lado, para homens trans que não realizaram a cirurgia de retirada das mamas, é recomendado realizar o exame periódico - com mamografia - a partir dos 40 anos de idade. 

Terapia hormonal oferece algum risco?

De acordo com a mastologista Dra. Isabela Escudeiro, de modo geral, mulheres trans têm 2 a 3% de chances de desenvolver o câncer, devido a fatores comuns aos das mulheres cis, como componente genético e histórico familiar.

Mas essa porcentagem pode aumentar, a depender do tempo de exposição e da dose da terapia hormonal.

A terapia é, essencialmente, a administração de hormônios no corpo que, entre outros efeitos, estimulam as células mamárias. Se, porventura, existir uma célula cancerígena no tecido, seria como jogar lenha na fogueira, entende? 

E no caso de não haver uma célula maligna sequer, a ação hormonal pode  aumentar as chances de mutação.

Mas isso não quer dizer que mulheres trans não possam ou não devem fazer a TH. O ideal é que seja feita sob acompanhamento de uma profissional da saúde.

Só que existe mais um agravo: a hormonização por conta própria. Algumas pessoas trans fazem a terapia hormonal sem supervisão médica por diferentes razões, como:

Dificuldades financeiras

Nem toda unidade de saúde tem as medicações e/ou o serviço de hormonização. Isso deixa como única opção, para as mulheres trans, se deslocarem até conseguirem o atendimento — o que pode envolver um expressivo gasto financeiro.

Infelizmente, vale lembrar que dados da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) mostram que a prostituição pode ser a única fonte de renda de aproxidamente 90% dessa população.. Por isso, é difícil contar que as trans femininas consigam arcar com tantos custos.

Desafios na triagem e na realização dos exames 

Não é raro encontrar relatos de mulheres trans que, ao sentirem algum incômodo, se consultam com um profissional endocrinologista e ouvem algo como “não conheço esse assunto” ou “você é a primeira paciente a perguntar isso”.

A pauta praticamente não aparece nas grades curriculares dos cursos de Medicina, o que torna o cenário bem preocupante. Afinal, se a classe médica não souber manejar o caso, quem mais saberia?

Falta de profissionais qualificados

Além da lacuna na formação do pessoal médico, outras pessoas trabalhadoras das unidades de saúde podem tornar a busca pelos cuidados com a saúde, por parte das pessoas trans e travestis, mais difícil ainda.

Na portaria, no Núcleo de Atendimento ao Cliente (NAC), entre outros. Todos esses setores poderiam receber o treinamento adequado para que se utilize o nome social das pacientes e para haver um cuidado a mais com essa população que já sofre preconceito em tantos locais públicos.

Quais as recomendações de prevenção para pessoas trans?

O Colégio Brasileiro de Radiologia, junto com a SBM, recomendam:

  • mamografia a cada 2 anos para mulheres trans e travestis com mais de 50 anos que fizeram uso de hormônios por mais de 5 anos;
  • avaliação individual e exames preventivos, a critério médico, para homens ou mulheres trans com antecedentes de câncer de mama na família;
  • mamografia, a critério médico, para homens trans que fizeram retirada parcial das mamas.

Outro ponto importante, ainda em relação à prevenção do câncer de mama, se deve aos procedimentos de aumento dos seios. 

O implante de silicone tem um preço elevado e, por isso, algumas trans femininas recorrem a outros métodos, como a aplicação de substâncias não recomendadas na região.

À parte os outros riscos desse procedimento, o aspecto do tecido dos seios fica alterado, o que prejudica o autoexame da mama e também as avaliações por imagem.

A verdade é que a prevenção do câncer de mama entre as pessoas trans e travestis poderia ser mais acurada, mas o preconceito as impede de ter um acompanhamento digno.

Como fazer uma campanha de Outubro Rosa inclusiva para a sua empresa?

Empresas inclusivas, normalmente, fazem bem para a sociedade, atraem profissionais de destaque e se diferenciam da concorrência. 

Veja o que pode ajudar você a preparar uma campanha inclusiva de Outubro Rosa para a sua empresa:

Adapte os materiais da sua campanha

Um dos desafios na campanha contra o câncer de mama na população trans é a falta de representatividade. 

A comunidade não se vê nos cartazes, nas mídias. Como poderiam saber que estão em risco? Ou se sentirem estimulados a participar dos debates e frequentar as unidades de saúde para realizar a triagem?

Os bancos de imagens Tem Que Ter e The Gender Spectrum Collection, por exemplo, trazem fotos de modelos LGBTI+. 

Facilite o contato com profissionais especialistas em saúde da população LGBTQIA+

Como já explicamos, não só é difícil acessar unidades que prestam serviços para a população LGBTQIA+, como as pessoas trabalhadoras do local, usualmente, não têm a formação específica para lidar com essas questões.

Por isso, reunir especialistas desse segmento na empresa traria um grande impacto positivo para a saúde das pessoas trans e travestis nesse mês de conscientização.

Por meio de uma busca rápida nas redes sociais, é possível encontrar indicações de pessoas infectologistas, endocrinologistas etc. Assim, você pode formar uma equipe mais preparada e de confiança para o seu Outubro Rosa inclusivo. 

Ofereça acesso à saúde de qualidade

De tudo o que foi abordado aqui, principalmente quanto às estatísticas, você já deve ter notado como esse grupo tem indicação de acompanhamento em saúde. 

Terapia hormonal (supervisionada ou não), mastectomia, procedimentos para aumento das mamas e outros fatores reforçam essa necessidade.

Vale ressaltar que, no Sistema Único de Saúde, por mais que já existam políticas de saúde para a população LGBTQIA+, as notificações das patologias são feitas segundo o sexo anatômico. 

Isso cria um viés significativo, que impede o mapeamento correto de pessoas trans com algum adoecimento. Portanto, provavelmente, há falhas nas campanhas e recomendações de saúde para as pessoas trans e travestis. 

A alternativa — já que a prevenção das doenças pode ser deficitária pela falta de monitoramento — é tentar oferecer prontamente cuidados em saúde que possam evitar agravos.

O Outubro Rosa inclusivo traz impacto positivo, tanto para a sua empresa quanto para os colaboradores. Iniciativas simples para a conscientização do câncer de mama na população LGBTQIA+ são valiosas para a sua saúde e podem tornar a campanha ainda mais marcante.

O que achou do assunto? Para saber mais, baixe nosso e-book gratuito que vai ajudar você a criar uma campanha impactante na sua empresa sobre o Outubro Rosa!

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